sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Sobre medíocres

Eu espero por dádivas do céu
Meus olhos estão casados de escuridão
Meus ouvidos, cansados de silêncio

Encontrei-me no espelho e achei-me velha
E toquei minhas cicatrizes
Reconheci cada uma de minhas rugas
E fiz tranças nos meus cabelos brancos

Olhei-me nos olhos e eles não mudaram

Deixe-me em paz
Deixe-me respirar
Porque hoje sou só um rascunho de mim

E eu que via e ouvia e sentia
Não sou mais quase nada
De janelas fechadas
E sonhos perdidos e mortos e rotos

Já não uivo para lua
Já não entro no mar escuro
Já não sofro nem me alegro

Agora eu estou na média
Agora eu sou igual
Agora... Só queria matar todos esses pássaros
E ter tinta para pichar todas as casas
E ódio para quebrar tudo que não é meu
E força para estragar o mundo como todos os medíocres fazem

Mas não, nem medíocre
Quem dirá heróica
Quem dirá viva

Mais uma vez e de novo e de novo
Eu caio em um sono sem sonhos
Acordo para acender outro cigarro
E penso em gritar, mas não grito
E penso em viver, mas não vivo
E quero ser grande, mas não cresço

Quem dirá amar
Quem dirá ser boa
Quem dirá ser feliz

Hoje eu estou na média
Esperando o semáforo abrir
Esperando, esperando...
Como todos
Com a mesma cara

Esperando dádivas do céu

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